Empresas B e Negócios Sociais

Hoje eu queria falar sobre as “Empresas B”, que são empresas que tem como orientação usar a força do mercado para solucionar problemas sociais e ambientais.

Mas aproveito para contar que lançamos recentemente no Instagram @changefor.good um projeto novo chamado #StayHome #BePositive #ChangeForGood para compartilhar, além dos temas que sempre tratamos lá, dicas de atividades, podcasts, leituras, séries e filmes e também movimentos e projetos que estão sendo criados especialmente para esse período delicado que estamos vivendo e que nos colocou em “quarentena”.

Em 2010, depois de alguns anos dedicados à captação de recursos e ao trabalho com ONGs, eu passei a me interessar pelo conceito de Empresa B, um certificado emitido pelo Sistema B (cuja “missão é construir um ecossistema favorável para fortalecer empresas que usam a força do mercado para solucionar problemas sociais e ambientais”). Eu mesma certifiquei a minha empresa, a Atuação no Mundo, em 2018, e sou uma grande entusiasta desse conceito.
Todo esse processo começou com as reflexões que fiz durante as pesquisas para o meu mestrado e doutorado em psicologia social que, embora partiram do universo que eu atuava (das ONGs), me levaram a refletir sobre o mundo dos negócios convencionais. E quanto mais eu me aprofundava no tema, mais eu percebia que as coisas poderiam melhorar na medida em que outros modelos de negócios fossem criados já com o compromisso em gerar lucro social e ambiental no seu “core”. Dessa forma, as ONGs poderiam focar em curar as feridas já existentes, que não são poucas.
Essa sensação ficou ainda mais forte quando me dei conta de que a maioria das feridas sociais e ambientais existentes foi e é produzida por nós mesmos, enquanto sociedade que busca o progresso e desenvolvimento, sem nos dar conta dos efeitos colaterais de nossas escolhas a longo prazo. Para mim ficou claro que a única maneira de evitar novas feridas sociais e ambientais era fechar a “torneira” que as produziam.
Eu intuía, naquele momento, que era importante interferir no modelo de gestão das empresas tradicionais, ou seja, precisávamos compreender o seu processo interno para conseguirmos, aos poucos, propor as alterações necessárias para um modelo de gestão comprometido em gerar ganhos sociais e ambientais.
Mas, como eu (doutora em psicologia social e designer de formação e, na época, consultora em captação de recursos para ONGs) poderia me atrever a questionar modelos de gestão? Mesmo eu não sabendo como, eu me atrevi a ponto de coordenar uma atividade complementar para os alunos da FGV/SP em 2010 e 2011 que se chamava Novos Modelos de Negócios – Empreendedorismo e Sustentabilidade em parceria com organizações super reconhecidas: a Artemisia, primeira organização focada em em acelerar negócios sociais no Brasil; a Ashoka, pioneira no mundo a utilizar o termo empreendedorismo social e referência global na solidificação do setor; e o Instituto Azzi, que nasceu para aproximar e levar recursos de grandes empresários para as ONGs.
O programa tinha como objetivo contribuir para que estudantes de gestão empresarial e pública tivessem contato com gestores de ONGs e organizações sociais. Dessa forma, esses estudantes, compreendidos como futuras lideranças, teriam mais conhecimento sobre as dificuldades pelas quais passam as ONGs e, também, dos problemas enfrentados no mundo (muitos deles causados por desatenção das outras esferas da sociedade). Naquele momento, meu intuito era que, quando eles estivessem inseridos no mundo corporativo e nos espaços públicos, eles tivessem mais sensibilidade e empatia por essas questões e, portanto, mais abertos a pensar formas de modificar seus modelos de gestão em suas áreas de atuação. Não só para ajudar financeiramente ONGs mas, também, repensando certas decisões e evitando que seus segmentos criassem novos problemas sociais e ambientais.
Contei tudo isso para dizer que, embora no Brasil daquela época ainda se falasse pouco em negócios sociais, certamente movimentos como esse que promoviam essa troca de experiências e abertura para novas possibilidades entre as esferas públicas, empresas, organizações sociais e pessoas engajadas deve ter colaborado com o que estamos vendo hoje: negócios sociais, negócios de impacto e as empresas B (entre outros).
Para mim, essas novas empresas representam o “modelo de negócio” composto por uma aliança entre o conhecimento profundo de problemas sociais e ambientais que os empreendedores sociais têm e a força e competência de gestão do mundo empresarial. O selo B estimula exatamente esse tipo de consciência e ação, ao motivar as empresas a revisarem e consertarem seu próprio modelo de gestão para que a sua governança seja mais positiva social e ambientalmente.
Explicando com as minhas palavras: os negócios sociais ou de impacto são negócios que nascem com a essência de uma ONG, para atender a uma demanda social ou ambiental, mas com um modelo de gestão focado em parar em pé financeiramente e gerar e distribuir lucro. Como a maioria das startups, eles recebem investimentos no início, mas sempre visando crescer, amadurecer e constituir um faturamento que lhes dê autonomia e lucro aos investidores.
Já as empresas B podem ser tanto empresas novas como também empresas antigas que se comprometem, até mesmo estatutariamente, a ir adequando seu modelo de gestão em relação à governança, à comunidade, ao meio ambiente e aos clientes. Um dos maiores exemplos que temos no Brasil é a Natura, um orgulho nacional que vem se aprimorando sempre.
Eu acredito muito nesse caminho. Imagine quando o mundo dos negócios estiver comprometido em gerar lucro financeiro atrelado a ganhos sociais e ambientais? Imagine quando isso virar o modelo mental de todos os negócios? Seria uma mudança de paradigma importantíssima e uma forma de encontrarmos um caminho entre prosperidade e sustentabilidade.
Eu vejo um mundo onde todas essas iniciativas trabalham juntas. As ONGs dando conta de problemas de ordem pública e que não conseguem gerar seus próprios recursos, servindo justamente para mobilizar a sociedade e a ampliar a nossa consciência e responsabilidade. E os negócios atrelados a propósitos, gerando ganhos econômicos, sociais e ambientais, em vez de gerar lucro às custas de danos sociais e ambientais…
Por isso, minha luta é para que o mundo corporativo entenda a importância dos negócios de impacto e do selo B e abrace esse movimento dentro do seu dia a dia. Dessa forma, teremos a chance de acelerar esse processo de transformação para um mundo sustentável. É importante entendermos que todos nós – cidadãos, empresas, instituições ou grandes corporações – temos condições, cada um da sua forma, de construir um mundo mais respeitoso, justo e saudável para todos nós: seres humanos, animais e natureza.

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